terça-feira, 2 de novembro de 2010

Perdão: Para que serve?

Quem preferir, pode baixar o áudio no link: http://www.4shared.com/audio/I9wTQTzu/O_Valor_do_Perdo.html


Todos nós, de maneira mais ou menos consciente buscamos uma vida melhor. Ao ser humano é natural e constante o desejo de progredir somando mais conhecimento e, ao mesmo tempo, aprendendo a viver melhor consigo mesmo e com os outros. O raciocínio lógico nos mostra que adotar a máxima do amor, não é escolher um caminho de dor. É, pelo contrário, encontrar o equilíbrio e uma maneira mais tranqüila de levar a vida.

Não estamos sós no mundo. Nossas atitudes afetam a vida dos outros e a atitude dos outros afetam a nossa vida. Mas não podemos esquecer que é  nossa a conduta que nos afeta diretamente.

Às vezes nós abrimos a boca e defendemos a nossa opinião como a mais pura verdade. É então, que no auge da nossa fala, surge alguém e nos contradiz, afirmando opinião contrária. Sentimos o ataque na hora. Porque a bela imagem da nossa personalidade acaba de ser manchada pelas palavras do outro. Esquecemos que somos mais do que a nossa própria opinião. Por sermos  orgulhosos, guardamos a idéia do ataque que acabamos de sofrer.

Em outros casos, um chefe ignora o nosso esforço no trabalho e oferece ao funcionário mais preguiçoso a promoção que foi disputada por todos. Aí, pensamos nas nossas necessidades financeiras, no nosso mérito, nos nossos planos, nos nossos, nas nossas, nos nossos... Quando não conseguimos superar a esfera do “eu”, deixamos de lado outros fatores que podem ter levado a certas decisões. Somos orgulhos, somos egoístas, guardamos a idéia de injustiça.

Acontece ainda de alguém fazer mal àquelas pessoas a quem amamos, nos valemos, então, de uma falsa compaixão para dizer – mexe comigo, mas não mexe com a minha família. Recordemos então, do que perguntou Jesus: – Quem é minha mãe? – Quem são meus irmãos?. Organizamos passeatas quando morre um filho nosso. Filho de quem? Filho de Deus, antes de tudo. Que foi morto por outro filho do mesmo Pai. Esquecemos que não há posto definitivo de vítima e vilão. Enquanto não acaba a briga, enquanto não há perdão, uma hora somos vítimas, outra hora somos vilões. Então, guardamos a idéia da covardia contra alguém a quem amamos.

Às vezes a punhalada vem de onde menos se espera. Ou de onde a gente finge que menos se espera. Vem do nosso companheiro, ou companheira. Nós não consideramos nossos próprios atos. Sentimos a perda da posse, sentimos  o ataque à auto-estima. Perdemos a segurança em nós mesmos, construída da maneira errada, mas dizemos que o que perdemos foi só a confiança no outro. Guardamos a idéia da traição, da mentira.

E com a nossa consciência, vai tudo bem, obrigado? Nem sempre. Ás vezes também estamos a remoer uma ação equivocada. Sentimos-nos diminuídos diante de um vício que não conseguimos largar. Nesse momento, ao invés de crescer diante do problema, nos diminuímos. Guardamos a idéia de impotência e de fraqueza. Chegamos a sentir pena de nós mesmos.

Vejam só, em tão poucas palavras, nós já guardamos o ataque da opinião contrária, a injustiça no ambiente de trabalho, a covardia contra alguém de quem gostamos, a traição e a mentira do companheiro e a nossa fraqueza diante dos mesmos erros de sempre. Quantas coisas ruins nós podemos guardar.

Alguns dos leitores podem ter se identificado com as situações acima, outros terão de fazer uma busca mais profunda na consciência. Eu costumo perceber que um sentimento desagregador me perturba, quando estou a pensar em algo útil e, em seguida a idéia perturbadora, incômoda, volta à cabeça. Isso é muito comum quando trocamos palavras mais ásperas com alguém. Ficamos a reconstruir e repisar aquele diálogo, pensando no que mais poderíamos ter dito, para sairmos vitoriosos do bate-boca, ou simplesmente para “colocarmos tudo pra fora”. Na verdade, a gente vai se desgastando. A gente perde energia remoendo diálogos, a gente perde tempo e recurso planejando vinganças, que vão aumentando o problema.

É isso que o perdão pode extrair de nós: o sentimento de que fomos prejudicados pelo outro. O sentimento de que somos mesquinhos porque falhamos novamente. Enfim, o perdão pode retirar a idéia perturbadora de alguma coisa que nos atingiu.

Se alguém nos provoca e nós nos desequilibramos, cedemos à orientação de um desorientado. Como se um doente te dissesse - grita comigo, e você gritasse.

O perdão é olvidar do mal. Abrir mão da represália. Não adotar a vingança. Nós passamos por experiências diversas e escolhemos o que levamos conosco. Perdoar é deixar de lado o mal causado pelos erros e, ao mesmo, tempo aprender com as experiências vividas. “Dar o direito a cada um de ser como é. Concedermos a nós mesmos o direito de ser como estamos.”

O perdão a nós mesmos consegue a oportunidade de redenção para os atos de que nos envergonhamos. O perdão transforma a desarmonia em amor, faz um inimigo, tornar-se um amigo, traz ao coração toda a paz que precisamos para uma vida melhor.

Falando assim parece fácil, mas como é que se faz isso?

Vamos buscar essa resposta no evangelho:
Jesus assim nos diz: se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.” – “Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará”.

É assim que se passa na Parábola do Credor Incompassivo. O senhor perdoa uma enorme dívida do seu servo. Mas o servo que recebeu o perdão, não quer perdoar uma dívida muito menor de um companheiro que lhe deve. Assim somos nós, esperando o perdão dos nossos erros e nos negando a perdoar os erros dos outros.

De maneira simples, a lição é a de que a chave para perdoar os outros está em reconhecer em nós indivíduos sujeitos ao erro. Sabemos que não somos o erro, apenas erramos e podemos deixar de errar. O mesmo devemos desejar ao outro.

Assim, o mestre nos diz “Ame ao próximo como a ti mesmo”. Podemos começar querendo para o outro, inclusive para os desafetos, o bem que queremos para nós. Pode ser difícil, mas precisamos começar, precisamos tentar.

Como funciona na prática:

 - Um ótimo exercício é pensar como a vida seria melhor se aquele rancor não existisse. Como a vida seria melhor se aquele inimigo fosse um amigo.

- Não congestione a raiva, deixe a escapar. Ter a descarga é um fenômeno fisiológico. Mas devemos nos lembrar de não ficar contra o infrator e sim contra a infração. Não descarregue devolvendo a agressão. Descarregue livrando-se da ofensa. Quantos nos xingam sem nos ofender?

- Não se preocupe em perdoar de imediato. Para não incorrer no erro da desonestidade. Perdoe assim que possível, desde que perdoe de verdade.

        Assim evitamos as contradições:
        Eu perdôo, mas ele me paga.
        Eu perdôo, mas Deus não vai perdoar.
        Eu perdôo, mas nunca mais quero vê-lo.

Vamos assumir que se uma atitude nos revolta, quer dizer que ainda não estamos muito acima da atmosfera daquele erro. Diz o E.S.E: “O ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação, nem grandeza.”

Por fim, vamos aprender com a oração de Bezerra de Menezes, que nos lembra que devemos  pedir pelos que causam o sofrimento, não só pelos que sofrem. Aquele que comete um crime já está encarcerado pela consciência. É  um infeliz, mesmo que ainda não o saiba. Aquele que nos ofende, está mostrando claramente um defeito. Quer maneira mais direta pra se pedir ajuda? Quem não quer ajuda, esconde o problema.

Se alguém discorda de sua opinião, lembre do que Jesus perguntou a Pedro:
“Não será vaidade exigirmos que toda a gente faça de nós elevado conceito?” ; “Agradar a todos é marchar pelo caminho largo onde estão as mentiras e a convenção”

Quando uma decisão parece injusta, considere-a por todos os ângulos e, se necessário, perdoe o outro por não ter usado as mesmas razões que você usaria, lembrando que você também já cometeu injustiças.

Ainda a Pedro, Jesus disse: “Temos que garantir que em todos os casos usaremos a boa-vontade, lembrando que ninguém vai até Deus levando um sentimento impuro no coração”

Eis porque aprendemos que temos que perdoar para sermos perdoados. Quando não perdoamos, não é Deus que nos castiga, mas as manchas de hipocrisia na nossa própria consciência. “Para nós, perdão. Para os outros, não.”

Quando alguém nos atira uma pedra, perde a tranquilidade, por saber que a qualquer momento a pedra pode voltar em sua direção. Se devolvermos a pedrada, seremos reféns do mesmo processo. Se ainda não puder lapidar a pedra, se desfaça dela. 

Isso quer dizer que para defendermos a paz em nossos corações. A paz de que precisamos para o trabalho útil, para as palavras inspiradas e inspiradoras, para a entrega a arte, para a tolerância dos desafios, devemos olvidar o mal. Afirmarmos em tom de coragem: - Eu me encarrego de fazer terminar aqui esse desafeto.

Leia o conto:  Construtor de Pontes. Divulgue essa mensagem de perdão e reconciliação.

Eis o grande valor do perdão: O fenômeno de transformar excremento em adubo. A maneira de se transformar uma lança atirada em nós, em uma bengala oferecida para o inimigo debilitado. Enfim, libertar-nos dos sentimentos torturadores, plantar afetos e ter paz para nosso crescimento espiritual.

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