domingo, 14 de novembro de 2010

Mensagem espírita: Lei do Progresso

Quem preferir pode ouvir e baixar o áudio no link:  
 http://www.4shared.com/audio/_nsSzYdG/Progresso_da_humanidade.html

Afinal a humanidade progrediu ou vivemos um momento de atraso, na perspectiva moral? Como podemos entender melhor as transformações na vida em família e em sociedade?

O homem evolui constantemente e está na estrada que leva à perfeição.
Imaginemos que todos nós estamos num grande ônibus de turismo. Hora, a velocidade aumenta, hora diminui. Em alguns momentos, vai tão devagar, que parece estar parado. Mas o certo é que o veículo não tem marcha ré e a estrada tem vários caminhos em mão única, mas não tem nenhum retorno. É assim que se processa o progresso, hora de maneira lenta e gradual, hora acelerado por eventos programados pela Divina Providência, certo é que não há possibilidade de retrocesso, na perspectiva da evolução espiritual.

Quando ouvimos notícias alarmantes, seja pela TV ou diretamente por outras pessoas, temos a impressão de que o mundo está piorando, as pessoas esqueceram a moral e os bons costumes. Alguns citam a falta de segurança, outros a falta de vergonha com que os crimes são praticados de maneira explícita. Quantas vezes escutamos a palavra “atraso” para qualificar a condição atual de ações humanas? Diante dessas percepções de que maneira podemos entender a caminhada evolutiva? É nesse ponto que os espíritos nos dizem que se observarmos o conjunto, vamos notar que o homem avança. Livro dos Espíritos - Q.784.

Não é muito difícil entender o porquê dessa sensação de retrocesso. Às vezes, na escola, as crianças comentem um monte de erros e injustiças para com os colegas. Se alguém apronta uma travessura, quem leva a culpa é aquele que ainda não sabe defender-se. Além do castigo, recebe apelidos ofensivos, é excluído das brincadeiras e passa a encarar o colégio como verdadeiro tormento.

As criancinhas vão crescendo e aos poucos percebem o mal que causaram a elas próprias e aos outros. A exclamação é inevitável. Quanta coisa errada nós fizemos e ainda estamos fazendo! Amadurecer ajuda a gente a perceber um monte de erros ao nosso redor. É quando notamos o quanto o nosso ônibus de turismo, a Terra, está sujo. O fato de a gente começar a enxergar os problemas, não quer dizer que o mundo piorou. Os problemas sempre estiveram lá, nós é que não enxergávamos. Assim entendemos melhor a resposta dos espíritos a Kardec, quando afirmaram que o progresso intelectual “faz compreensíveis o bem e o mal. O homem desde então, pode escolher.”

A humanidade, porém, não está limitada aos espíritos encarnados na Terra. Isso quer dizer, que levando em consideração apenas os espíritos aqui encarnados, juízo equivocado faríamos da atual condição humana. Lembrar disso implica em algo muito importante: o modo como vemos o homem na Terra, também tem relação com o grupo que está encarnado,  neste momento. Aliás, o processo de regeneração por que passa o Planeta está diretamente ligado aos grupos de espíritos que reencarnam ou deixam de reencarnar no nosso planeta.

Mesmo que tenhamos a certeza do progresso da humanidade, algumas comparações são inevitáveis. Vemos, hoje, o enfraquecimento de instituições de grande importância como o casamento, a escola e organizações ligadas ao Estado. Assumir um ou outro retrocesso não contraria a lei geral do progresso, principalmente, se entendemos que os períodos de grandes transformações são também períodos de turbulência.

É hora de subirmos um degrau na tentativa de melhor entender o processo de mudança. Ao buscar a vida junto à civilização, o homem abre mão de um pouco de liberdade. Precisa obedecer a regras e respeitar os limites impostos pelas instituições. Em troca, recebe um pouco mais de segurança.

O homem moderno busca a ordem. Tenta criar um mundo previsível, um ambiente sem imprevistos, um lugar favorável à ação exata. Entendemos bem isso, se pensarmos que havia projetos de vida. O futuro era mais ou menos previsível. A vida em família, em seguida a escola, as instituições militares, em resumo, um verdadeiro projeto de vida para diminuir os equívocos, limitar a liberdade de escolha e assim minimizar e coibir as más tendências do ser humano.

Na modernidade, o homem tinha melhor noção do seu lugar e dos papéis que assumia. Como disse o sociólogo austríaco, Alfred Shutz, “é possível que cada um encontre seu lugar”, usando como referência os valores sustentados pelas instituições e pelas heranças culturais transmitidas dos pais para os filhos.

O homem que não compartilhasse dos mesmos valores era considerado estranho. O estranho poderia perturbar a ordem, perturbar a limpeza. Levadas ao extremo, essas idéias resultaram, por exemplo, no movimento nazista, que buscava eliminar o que perturbava a pureza. O resultado nós conhecemos: ódio racial e extermínio de milhões de pessoas.

Por outro lado, os valores modernos asseguravam a ordenação da vida em família. O homem, por exemplo, entendia o papel de pai, os sacrifícios envolvidos e as garantias recebidas em contrapartida. Em termos gerais, o pensador Zigmund Bauman - retomando reflexões de Freud - afirma que o homem trocava a dúvida da felicidade, pela certeza de não ser infeliz, temia ser desventurado. Assumia a profissão mais ou menos indicada, que garantia alguma segurança.

Os projetos de vida da modernidade, no entanto, deram pouca importância para a dimensão espiritual da vida. Acreditava-se que seria satisfatório conquistar fortuna, segurança no trabalho, ocasião de vivenciar prazeres e boa apresentação perante a sociedade. Como nos ensina Joana de Angelis, a humanidade não levou em conta a busca pelo “equilíbrio interior, domínio de si mesmo, o idealismo, a harmonia pessoal e a boa estruturação psicológica”

Sem a reforma interior necessária e desacreditado da possibilidade de encontrar uma nova e perfeita ordem, o homem moderno viu as instituições não darem conta de sustentar valores preponderantes à manutenção da ordem. Tudo isso somado às revoluções tecnológicas, o crescimento do capital e a impossibilidade de controle do Estado resultou em mudanças, hoje incontestáveis. As empresas assumem os vazios deixados pelo Estado.  Um exemplo claríssimo está no crescimento dos planos de saúde, que mostram incredulidade nos organismos de saúde pública. Ouvimos com frequência frases como “Depender do SUS? Deus me livre”.

Na ordem dos valores morais, mudanças importantes também ocorreram. Desiludidos com os projetos rígidos de segurança, o homem, troca a segurança, por um pouco mais de liberdade. Assume o risco da  infelicidade e busca o prazer. Aliás, é comum, hoje, que a gente se sinta obrigado a ser feliz. Não é por acaso que uma das maiores buscas do homem contemporâneo seja a do reconhecimento social.  No mínimo, precisamos mostrar para os outros que nós somos felizes, seja na apresentação presencial, ou nas fotos do Orkut.

Pessoalmente:
- Como vai meu amigo?
- Tudo ótimo, e com você?
- Tudo bem!

No Orkut, as frases exibidas e a legenda das fotos contam as últimas experiências maravilhosas que vivemos na última viagem, na boate, nos eventos e por aí vai.

Com a transição dos valores, os papéis na família se confundem, filhos ditam regras, pais resistem a assumir a fase adulta, a juventude chega cedo e demora mais a terminar. A socióloga e psicanalista, Caterina Koltai, nos lembra que o casamento diminuía a liberdade pela segurança. Essa liberdade que o casamento diminui, a gente pode entender, por exemplo, com relação as livres associações afetivas. O fenômeno de conhecer e se relacionar com várias pessoas. Ter muitos laços e não estar preso a nenhum. A família e os papéis de pai e mãe são incertos, porque envolvem sacrifícios. Daí a pouca separação de funções entre pais e filhos. Adolescência precoce e mais extensa. Parece ser mais difícil suportar uma perda necessária para fazer parte do mundo dos adultos, mundo do amor e do trabalho.

Com os valores em conflito, o vazio é preenchido pelo consumo e pela busca do prazer imediato. Muito comuns frases como “viva o hoje”, “curta o momento”. A nossa ansiedade mal contida costuma resultar em “sofrimento, insatisfação, e angústia” que surgem logo após as sensações “momentâneas e vãs” como bem nos lembra Joana de Angelis no livro “Adolescência e Vida”. Precipitamo-nos com a sede de quem quer beber a água do mar. Mas a água salgada, além de aumentar a sede, deixa o gosto amargo na boca, nos explica o próprio Divaldo em suas palestras tão valiosas.

Todos esses conflitos ajudaram o homem a reconhecer necessidades fundamentais. Num mundo competitivo e individualista, a lógica permanente é da disputa, concursos, vestibulares e competições: “cada um por si e salve-se quem puder”. Desiludido, o homem reconhece sua fraqueza, quando sozinho, aceita melhor a idéia religiosa, tolera melhor às diferenças. O estranho passa a ser “o diferente”, as diferenças são toleradas, ao menos no nível do discurso. Essas mudanças são mediadas pelas mensagens nas mídias, hora o discurso de pertencimento com a tal sandália que “todo mundo usa”, hora a busca por parecer diferente com o clichê do “fuja do comum”, que de certa forma é resultado da crise do mercado que não sabe mais o que oferecer.

Diante de tantos conflitos internos, o homem mais esclarecido, pelo desenvolvimento intelectual, entende melhor os valores morais e melhor se prepara “para as lutas nem sempre fáceis do processo evolutivo”, encontrando resistência na busca “da reflexão, da alegria de viver, dos prazeres éticos e da recreação“. Em outras palavras, a auto-realização como ser humano, substitui o desejo imediato do possuir. Assim, a codificação espírita nos conta que “depois de se haver, de certo modo, considerado todo o bem-estar material, produto da inteligência, logra-se compreender que o complemento desse bem-estar somente pode achar-se no desenvolvimento moral.” A Gênese, Cap. XVIII – 6. 

Ampliando nossos conhecimentos e mais disciplinados moralmente, apuramos no senso de justiça. Hoje mesmo, podemos até reconhecer que a maioria das leis tem fundamento e atendem em boa parte o que nós entendemos por justiça e direitos humanos. Arrisco até a dizer que o problema passou a ser mais de aplicação do que de criação. Thomas Jefferson dizia que “Se os homens são corruptos, as leis são inúteis”. No mínimo, as leis ainda imperfeitas evitam abusos ainda maiores. De certa forma, ainda punimos, porque não aprendemos a educar. Damos a “palmada corretiva”, porque não aprendemos, ou nos recusamos a aprender a dar o verbo. Educar dá trabalho.

Retornando a metáfora da infância, percebemos o quanto crescemos e ainda precisamos crescer. E o que pode nos ajudar a fazer nosso ônibus da evolução andar mais depressa? O espiritismo, ou de maneira mais específica, as verdades universais e imutáveis que o espiritismo representa.

A evolução intelectual é rápida, como bem vemos. Hoje, um celular parece moderno, amanhã ele já parece um tijolo. Ontem, ter energia elétrica era um luxo, hoje a maioria de nós já tem. Não podemos negar que o homem avança muito rápido no sentido intelectual. Pode parecer que a ciência ajuda a produzir mais coisas, a vender mais coisas e a fazer mais dinheiro. Então, a ciência aumenta a ambição e o desejo de posse? Sim, o homem pode ter mais. Não vamos negar isso. Muitos homens gastam dinheiro em pesquisas para descobrir como ganhar mais dinheiro. Mas o conhecimento traz esclarecimento. Assim, os cientistas são forçados a reconhecer que existe vida além da matéria. Os psicanalistas são levados a assumir que nós trazemos distúrbios que começam antes dessa vida. Os psicólogos reafirmam que as posses materiais não representam a felicidade. E todos nós vamos perceber que não poderemos ser felizes, causando, ou se quer, permitindo o sofrimento do próximo. Por fim, vamos reconhecer o amor e a caridade como caminho inevitável para o bem-estar e progresso da humanidade.


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